
Viagem no Tempo
O tema viagem no tempo é muito comum em filmes, séries, livros e estudos científicos e filosóficos, e tem um grande apelo entre as pessoas que sonham acordadas com a possibilidade. Há quem considere impossível e outros que acreditam que possa acontecer. Apesar de todo avanço tecnológico, ainda continua sendo um mistério à ser resolvido. Neste texto, veremos alguns impedimentos para a viagem no tempo segundo as leis da física

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O que é tempo?
A própria definição do conceito tempo é complicada de se explicar. Tempo é o intervalo entre duas ações, como frames em filme, uma sequência de “fotografias” de um evento? Tempo é fluído, sem interrupções, uma vez que o tamanho do intervalo pode ser dividido em partes cada vez menores, tendendo ao infinito? Tempo seria apenas uma construção da mente humana ou um fato físico? Poderia algum ser ou coisa estar fora do tempo, ou seja, atemporal? Mais perguntas do que respostas.
Segundo a teoria mais aceita, proposta por Einstein, há mais de cem anos atrás, é que o tempo é uma dimensão, assim como comprimento, largura e altura. Assim, vivemos numa realidade quadrimensional, uma temporal e três espaciais. O chamado espaço-tempo. Todo evento acontece um local e em um horário.
Uma forma fácil de entender isso é a marcação um encontro com alguém. Para que ele ocorra, é preciso combinar um “onde” e um “quando”. Por exemplo, Rua do Bolsinho, toca do Bolsão, sem número, Vila dos Hobbits, Condado, 22 de setembro de 2890 da Terceira Era, às 16:00. Somente com coordenadas específicas, com data e hora, é que o Gandlf e o Frodo podem se encontrar.
O espaço-tempo pode ser torcido, esticado, rompido (em teoria), deformado ou comprimido, de acordo com as forças gravitacionais, geradas por energia e massa. Ainda, o tempo é relativo, dependendo da posição e velocidade do observador. Se, hipoteticamente, viajasse à velocidades próximas a da luz, o tempo passaria mais devagar em relação à alguém estático. Para o viajante, o fluxo do tempo seria normal; para os que estão de fora também. Porém, ao comparar os “relógios” dos dois, ou tempo passou mais rápido ou mais devagar, dependendo em qual olhar.
O filme Interstellar (2014), de Christopher Nolan, mostra bem essa diferença relativística da passagem do tempo, com o personagem principal, vivido por Matthew McConaughey, encontrando em determinado momento a própria filha, mais velha do que ele mesmo.
Sendo então uma dimensão, poderíamos fazer uma viagem no tempo, usando algum meio de transporte?
Tempo é o que impede que a coisas aconteçam de uma vez.
John wheeler (1911 – 2008)
Entropia
A 2a lei da termodinâmica diz que, em um espaço fechado, se nenhuma força ou ação for aplicada, o estado das partículas presentes tendem a se desorganizar com o tempo, sendo estatisticamente impossível que voltem às posições originais. Há um aumento do desconhecimento sobre elas, ou seja, a entropia ou caos cresceu.
Segundo essa lei, há sempre mais possibilidades de configurações, posicionamentos e arranjos de um conjunto de partículas com o passar do tempo, sendo impossível a predição de seus comportamentos. Em sistemas macroscópicos pode ser previsto com acuracidade, mas no reino sub-atômico não, devido flutuações quânticas.
Neste reino, o que existe são ondas probabilísticas sobre a posição ou velocidade (momentum) de um elemento. Existe um intervalo ou “range” onde há maior chance de um evento acontecer. A cada instante, a onda colapsa em um estado único e definitivo. O leque de possibilidades que havia antes foi reduzido à apenas uma única e específica configuração. A probabilidade de infinitos valores entre 0 e 1 (zero % chance de acontecer até 100% de certeza) deixa de existir.
O passado passa a ser estático, ou entropicamente baixo, pois não há dúvida do que aconteceu (seja conhecido ou não, o que passou, passou). O presente, se é que existe um, é o momento da definição, do colapso das possibilidades, quando as ” escolhas” são feitas. O futuro, é o imprevisível, caótico e insondável mar de variáveis e probabilidades, restrito apenas à causalidade. A seta do tempo aponta para um lado apenas.
A causalidade, que diz que toda reação vem de uma ação anterior, é o que limita as chances de algo acontecer.
Sendo assim, com um passado estático já definido, uma viagem no tempo feriria mortalmente a entropia e a 2a lei da termodinâmica. No entanto, mas se não houver apenas “um” passado?
Universos paralelos e linhas de tempo alternativas
Uma das discussões mais intensas no ramo da física, nas primeiras décadas do século XX, foi com relação ao princípio da incerteza, proposto por Alemão Werner Heisenberg, apoiado por dinamarquês Niels Borh, um dos pais da mecânica quântica, confrontados por ninguém menos do que Albert Einstein.
Para Einstein, era incompreensível e inaceitável que não houvesse uma forma clara e precisa que explicasse a aleatoriedade os fenômenos sub-atômicos. Para ele, a teoria proposta estava incompleta. “Ele (deus) não joga dados”.
Uma das soluções propostas é que todas as possibilidades possíveis acontecem, chamada de interpretação de muitos mundos, proposta por Hugh Everett III, mas só vivenciamos uma realidade. Assim, invés de um evento acontecer aleatoriamente, ele é apenas mais um entre tantos. Cada escolha leva à um mundo diferente, não ferindo o conceito de causalidade, mas reforçando-o. No entanto, não pode ser provado.
Nesta linha, pode haver um zilhão de outras versões suas, vivendo paralelamente em realidades diferentes: outro trabalho, outro casamento, ser rico, pobre, etc.
Um dos problemas dessa abordagem é sobre a conservação da massa: de onde sairia a energia para gerar um novo mundo a cada minúscula decisão tomada? Ou será que esses mundos já existem e navegamos por eles conforme as escolhas? Mais ainda, temos escolha, livre arbítrio ou já está tudo definido em nossa linha do tempo?
Viagem no tempo é possível?
Viagem no tempo pode ser um termo inadequado para abordar a questão, pois partimos da ideia de uma viagem comum, indo do ponto A ao ponto B, e depois voltando para o A. Não voltamos ao passado, voltamos ao lugar. O tempo continuou fluindo para “frente”. Da mesma forma, mesmo se viajasse ao passado, o tempo para você continuaria a seguir. Em outras palavras, você continuaria a envelhecer.
A viagem no tempo não é como retroceder um filme no qual fazemos parte pois, se assim fosse, ao voltar 100 anos atrás, você seria um monte de moléculas espalhadas por vários lugares, até que se juntassem para gerar um espermatozoide, fecundando o óvulo que te deu origem. Não mudaria nada.
O modelo de viagem no tempo implica que TODO o conhecimento do passado está armazenado em algum lugar, com os ínfimos detalhes do histórico das interações das sub-partículas, e todas coisas criadas e destruídas. Parece estranho? Basta olhar para o céu numa noite e olhar as estrelas. O que vemos é o que elas FORAM há milhões ou bilhões de anos atrás. Pelas longas distâncias, pode ser que nem existam mais.
Mais rápido que a luz?
A luz das estrelas é a informação que recebemos depois dela fazer uma longa viagem. Mesmo com a espantosa velocidade de 300 mil km/s, a luz demora para chegar até nós. Neste longo intervalo, o astro que a gerou continuou envelhecendo e mudando. Civilizações podem ter florescido e desaparecido neste meio tempo.
Assim, para viajar ao passado, teoriza-se que é necessária uma velocidade acima a da luz. Um viajante ultra veloz poderia, neste contexto hipotético, interceptar uma informação mais cedo do que o normal, voltar para origem e ser capaz de revelar um evento antes do tempo. No entanto, o mero fato “olhar” ou ter “ciência” já altera os dados iniciais. De qualquer forma, não seria uma viagem no tempo e não há meio de vencer a luz, a não ser pegando um atalho.
Wormholes ou Buracos de Minhoca

Wormholes ou buracos de minhoca são possibilidades exóticas que a matemática da teoria da relatividade permite. Altas concentrações de matéria geram campos gravitacionais fortes que “dizem” como o espaço-tempo deve se curvar. Já o espaço-tempo curvado “diz” como a matéria como deve se mover. É o movimento da Terra ao redor do sol, por exemplo.
Desta forma, como uma folha de papel, o espaço-tempo pode se curvar tanto que vira um cilindro; pontas distantes da folha se tocam, cortando caminho.
Numa folha curvada dá-se para atravessar um lápis, atingindo dois pontos distantes se estivessem no plano. O lápis seria o buraco de minhoca, o túnel que liga duas partes. O que está em cima é como o que está embaixo.
Desenhe um flecha na folha e curve-a de forma com que a ponta da seta se encontre com parte traseira. O começo e o fim ficam no mesmo ponto.
Distâncias enormes podem ser alcançadas, quase que instantaneamente, sem romper a velocidade da luz. O mesmo teoriza-se para o tempo.
A quantidade de energia para abrir um buraco assim seria colossal; a estabilização para permitir passar um objeto de grandes proporções também seria um desafio; saber onde abrir um buraco para sair em um determinado lugar ou tempo é tecnologicamente impossível atualmente. A maquininha da série DARK não daria conta…
Outro problema é que nunca foi avistado nenhum wormhole pelos confins do cosmo. Uns acreditam que a entrada já foi detectada: à partir de um determinado limite de massa (o chamado Limite de Chandrasekhar = 1,44 massas solares) [1], a gravidade é tão intensa que um corpo (anã branca) colapsa em si mesmo, formando um buraco negro, de onde nem a luz escapa.
Numa ponta do túnel poderia ter um buraco negro e na outra, o hipotético buraco branco. Eis um wormhole natural, que possibilitaria a viagem no tempo. Infelizmente, nada com massa suportaria tal aventura, sendo destroçado no seu nível mais fundamental. Outro beco sem saída.
Além disso, se tudo está interligado, uma mudança no passado afetaria o futuro?
Paradoxos temporais
O paradoxo do avô é um dos calcanhares de Aquiles de qualquer um que sonhe com a viagem no tempo. Imagine se pudesse voltar à época da juventude de seu avô, antes dele ter concebido seu pai. Se o matasse, seu pai não nasceria e nem você também. Se você não nasce, não pode voltar no tempo, seu avô continua vivo, tem seu pai, você nasce, podendo viajar no tempo… Um ciclo lógico sem solução.
Nos filmes, desde o clássico “de volta para o futuro”, até os mais recentes, como Avengers: End Game, aborda-se a possibilidade de linhas do tempo alternativas. Qualquer mudança que causar no passado, gerará uma nova realidade, distinta da original. Tentar consertar a cagada pode gerar uma terceira linha, e assim por diante.

Parece que a viagem no tempo é realmente impossível. As leis da física e lógica impedem. Mas e se…
Entropia Reversa
Há uma proposição, sem comprovação observacional, que diz que no momento do Big Bang duas linhas de tempo surgiram, uma feita de matéria que conhecemos e outra composta por anti-matéria, seguindo um fluxo simétrico, mas invertido. Para as equações da física, as duas são idênticas mas contrárias. Não dá para usar o conceito de positivo e negativo, pois a anti-matéria também tem duas cargas.
O tempo corre ao contrário em algum dos lados. Podemos estar do “lado” da anti-matéria, sermos feitos dela e o tempo fluir para trás. Não faz diferença pois, do nosso ponto de vista, a realidade é assim.
No filme TENET (2019), outro do Christopher Nolan, é explorada essa possibilidade de viagem no tempo. Pessoas do futuro criaram um dispositivo que inverte o tempo, o que chamam de entropia reversa. É um conceito bem difícil de entender: enquanto o seu tempo segue para o futuro, alguém invertido volta do futuro, com conhecimento adquirido do que vai acontecer, tendo vantagem no desenrolar das ações. Complexo.
Neste caso, apenas alguns elementos voltam no tempo, enquanto o fluxo normal permanece.
Alienígenas e outras ideias excêntricas
Há quem acredite que já fomos e somos visitados por viajantes do tempo, os quais chamamos genericamente de aliens, com seus discos voadores. É um tema bem fascinante e tem um apelo grande entre os gostam de ficção científica (como eu).
Obviamente, não há provas de vida alienígena, nem naves espaciais, muito menos se são do futuro mas, como possibilidade, faz sentido. Civilizações altamente avançadas tecnologicamente podem ter descoberto uma forma de viagem no tempo, que nos é totalmente incompreensível. Podem ser inclusive nossos próprios descendentes. A ausência de provas não é prova da ausência.
Também, há um grupo que ache que o tempo é uma ilusão da mente humana e, assim sendo, pode ser manipulado por quem dominar seus pensamentos, através de drogas psicoativas e outros estímulos sensoriais. É um outro tipo de viagem…
Por fim, o tempo é uma criação de alguma divindade, que aprisiona os humanos até que aprendam o caminho correto da vida, segundo seus ensinamentos e vontades. A viagem no tempo seria ciclos de encarnações até que roda da Sansara seja quebrada.
Conclusão
Para todos os efeitos, a viagem do tempo continua sendo uma impossibilidade física e lógica, mas não matemática. Como dizem, ou a viagem no tempo é impossível, ou nossa época é extremamente desinteressante para não termos nenhum turista do futuro nos visitando. Provavelmente por nossa civilização ser muito recente, ocupando uma pequena fração do tempo total da existência da Terra e do próprio universo. Um piscar de olhos.
No entanto, as viagens no tempo continuarão a fazer parte do nosso imaginário, com seus furos de roteiro e tudo mais. Alterar o passado, corrigindo erros ou fazendo escolhas diferentes, é sempre algo que gostaríamos de fazer.
Gostou? Comente, antes que seja tarde demais.
Fonte [1] Limite de Chandrasekhar