Transtornos de ansiedade e depressão

Transtornos de ansiedade e depressão

Segundo relatório da OMS (organização mundial da saúde), os casos de depressão aumentaram 18% entre 2005 e 2015. Transtornos de depressão afetam mais de 300 milhões de pessoas no mundo, a maioria mulheres. O Brasil lidera o ranking: são mais de 12 milhões (aproximadamente 6% da população) e transtornos de ansiedade quase 20 milhões (em torno de 10%).

Transtornos de ansiedade
Tudo parece caótico

Além do problema de saúde que afeta os doentes e as pessoas ao redor, causam perdas anuais estimadas na casa de U$ 1 trilhão.

Transtornos de ansiedade.

Ansiedade é a preocupação ou medo de não conseguir lidar com determinas situações do dia a dia. É o gasto de tempo pensando em possíveis cenários que na maioria dos casos não se concretiza. Há as chamadas disfunções cognitivas, que são processos mentais, sentimentais ou de ações que estão fora de uma média de normalidade e funcionalidade dentro de um grupo, que distorcem os pensamentos levando à conclusões irreais e comportamentos autodestrutivos.

É também o desejo pessoal de ser/ter/fazer coisas que não consegue sem esforço árduo.

transtornos de ansiedade
MEDO.

Transtornos de depressão

Normalmente associado com tristeza, apatia, falta de vontade, falta de energia, sonolência, vontade de se isolar, achar que nada vale a pena, desleixo com aparência e asseio pessoal, desejos ou pensamentos constantes sobre a morte.

Pode causar flutuações dos níveis de humor, frente à eventos indesejados do cotidiano, ou pode ser crônica, com estado melancólico constante acompanhada de fobias sociais.

Tanto os transtornos de ansiedade como os de depressão geram dor emocional e física, muitas vezes em níveis tão elevados que causam a paralisação das atividades dos que as experimentam. Em crises de pânico, há um medo generalizado, acompanhado de aceleração do ritmo cardíaco, sudorese, falta de ar e, às vezes, também solta o intestino.

Não adianta correr, não vai chegar ao final.

Por que mais pessoas são afetadas por estes transtornos nas últimas décadas?

Transtornos de ansiedade e depressão normalmente andam juntas, uma alimentando a outra, criando uma massa disfuncional de pessoas, que se mantem ativa somente à base de remédios.

Mas qual o motivo do aumento destes transtornos e da prevalência entre mulheres?

Paradoxalmente, é porque a qualidade de vida melhorou.

Na primeira metade do século XX, fome, guerra e doenças eram as preocupações constantes das pessoas. Eram ameaças concretas, e tomadas de decisões pessoais ou de governos tinham que considerar esses problemas como eventos iminentes. Não pensavam “se” iriam acontecer, mas “quando”.

Questões que envolvem a sobrevivência são instintivamente prioritárias, ficando outros desejos e necessidades em segundo plano.

Esses três fatores foram quase totalmente eliminados.

  • Doenças: desenvolvimento de vacinas e antibióticos reduziu drasticamente as mortes, principalmente entre as crianças. Apesar de atravessarmos a crise do Covid-19, a causa e as medidas necessárias para diminuição do risco de contagio são conhecidas, coisa que não acontecia antes.
  • Guerras: após a segunda guerra mundial, com a detonação das bombas atômicas, criou-se um equilíbrio de poder entre as nações, em que qualquer medida expansionista ou de agressão, pode acabar em um conflito que aniquilaria a maior parte das pessoas e construções. Não é vantagem para ninguém. Guerras isoladas ainda ocorrem, mas não são uma preocupação para a maioria da população.
  • Fome: técnicas mais avançadas de cultivo de plantas e criação de animais, aumentaram muito a capacidade de geração de alimentos. Sejam máquinas, pesticidas, remédios ou hormônios, fizeram e fazem a diferença para manter alimentada a crescente população mundial. Focos isolados ainda ocorrem, mas em escala bem menor. Há ajuda quando necessária.

the triumph of death
Triumph of Death – Pintura de Pieter Bruegel, o Velho

Assim, e por outros avanços em outras áreas, as pessoas começaram a se preocupar com coisas menos essenciais, dando ênfase ao prazer e qualidade de vida, e se queixando da falta de luxos supérfluos. Pequenos aborrecimentos ou contratempos, impensáveis anos atrás, são motivo para tristeza e desânimo, para reclamações e revoltas.

A falta de desafios de vida-ou-morte acabou liberando a mente para desejar ter/ser/fazer/obter novas formas de satisfação pessoal, outros objetivos e metas mais intelectuais e sentimentais, do que a segurança e integridade física.

A crescente disseminação de informações e bombardeio de propagandas faz que com as pessoas não saibam mais no que acreditar e nem no que realmente desejam. Em vitrines reais e virtuais, confrontam suas existências com modelos de exceção e muito acima da média do cotidiano. Acham suas vidas medíocres e que estão perdendo tempo não fazendo nada de interessante.

Parte dos transtornos de ansiedade vem da urgência em atingir tais modelos, cada vez mais distantes conforme a régua do que é comum sobe.

Outra parte vem da pressão constante no trabalho e nas escolas, do tempo perdido no trânsito, nas filas dos bancos e supermercados. Pessoas vivem estressadas, em um estado de tensão constante, mesmo não tendo uma ameaça clara à sua integridade física.

São efeitos colaterais que surgem com o desenvolvimento das sociedades.

Uma das causas da depressão é a falta de maturidade para lidar com as vicissitudes da vida. Quanto mais se tem, maior a sensibilidade frente à negação ou falta de acesso. Criticar o “mimimi” juvenil é até certo ponto injusto, porque as sociedades mudaram muito rápido em um curto período de tempo. O conflito entre gerações está mais evidente. Dizer ” ah, hoje vocês tem moleza, no meu tempo não era assim” é absurdo pois não se escolhe a que época em que se nasce.

Com relação às mulheres…

O que só as mulheres veem.

É inegável as diferenças das respostas emocionais entre homens e mulheres, no entanto, o maior número de casos de transtornos de ansiedade e depressão não vem da genética e sim do ambiente e fatores sociais. A crescente necessidade de equiparação de direitos, gerando a dissolução do tradicional núcleo familiar, é a causa mais plausível.

Também é um efeito colateral. Com o aumento da liberdade de escolha e direitos adquiridos, as mulheres saíram do jugo masculino, tomando as rédeas das próprias vidas. Mas isso teve um preço.

Antes havia um forte estigma social ligado a mulheres divorciadas e mães solteiras; hoje tornou-se comum, com lares desfeitos ou disfuncionais. Aparentemente, homens lidam melhor com isso, pois o impacto em suas vidas é menor. Continuam trabalhando como sempre, enquanto mulheres precisam procurar formas de se sustentar e cuidar do filhos, que normalmente ficam sob suas guardas. Jornada dupla/tripla extenuante.

Além disso, a idade mostra seus efeitos mais cedo na mulheres, fazendo com que as mais “velhas” e com filhos sejam preteridas pelos homens, que escolhem as mais novas. Solidão, baixa autoestima, stress da rotina, sonhos não concretizados, carreiras interrompidas por gravidez (desejas ou não), preocupação com o futuro de suas crianças ou problemas com adolescentes rebeldes, sem noção e sem figura paterna para balancear a criação, geram as condições mais que favoráveis para o desenvolvimento destes transtornos.

Há solução a vista?

As curas são raras, ficando a maioria das pessoas em um estado de manutenção mínimo de funcionalidade social. Remédios, remédios e remédios. Soluções fácies e acessíveis.

Outras terapias são caras e demandam muitas sessões, que acaba levando à desistência do tratamento.

Conscientização e mudanças de atitude tem impacto lento e estão sujeitas à fatores sócio-econômicos. Meditação, alimentação saudável, qualidade do sono, prática de exercícios podem ajudar, mas exigem disciplina, que não é fácil de alcançar em estados depressivos.

É mais provável que eventos externos moldem o futuro dos comportamentos humanos, do que mudanças internas individuais. Avanços na tecnologia, como inteligência artificial, acabarão por tomar as decisões melhor do que as próprias pessoas poderiam escolher, uma vez que a maioria não se conhece o suficiente.

O futuro é incerto, tanto para o bem quanto para o mal. Por enquanto, os transtornos de ansiedade e depressão continuam a crescer.

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