
Seis paradoxos para você pensar
Você sabe o que são paradoxos?

Substantivo masculino
- 1.pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano, ou desafia a opinião consabida, a crença ordinária e compartilhada pela maioria.
- 2.aparente falta de nexo ou de lógica; contradição.”pregar o amor e espancar os filhos é um paradoxo.”
Paradoxos são construções mentais que levam à contradição ou que ficam em um processo de repetição de informações sem fim (loop).
Listarei seis dos que eu acho mais legais:
Paradoxo da Pedra
Deus é capaz de criar uma pedra tão pesada que nem ele mesmo consegue levantar?

Aqui, o que se põe em cheque é a onipotência divina. Se deus tudo pode fazer, então poderia criar o que quisesse, no caso, a pedra pesada. Por outro lado, se ele não consegue levanta-la, prova que não pode fazer tudo. Beco sem saída.
O contra argumento é que paradoxos são limitações humanas, as quais deus não está submetido. Pode haver uma lógica desconhecida ou incompreensível que contemple as duas possibilidades.
Paradoxo do navio de Teseu
Havia um humano chamado Teseu, que tinha o melhor navio na época. Com o tempo, precisava de manutenção, e cada parte quebrada era substituída por uma nova. Como era um barco famoso, resolveram guardar os pedaços velhos. Depois de alguns anos, todas as partes foram trocadas por madeiras novas, enquanto outros usaram as antigas para reconstruir a relíquia. A pergunta é: qual é o verdadeiro navio de Teseu?

Este foi proposto por Plutarco, sobre o famoso barco de Teseu, personagem importante da mitologia grega.
Seria o novo, com todas as partes substituídas? Conceitualmente é mesmo, não é? As células de seu corpo morrem e são repostas por outras, isso faz com que você seja outra pessoa em essência?
Ou seria o feito com as madeiras velhas originais? Afinal, fisicamente, aquelas fizeram parte do barco.
Este é mais interpretativo e não há uma contradição lógica forte. Ainda assim, dá-se o que pesar.
Paradoxo temporal ou paradoxo do Avó (de volta para o futuro)
Se você construísse uma máquina do tempo, voltando para época antes da concepção do seu pai, e matasse seu avó, você não existiria no futuro e não criaria a máquina. Não criando a máquina, seu avó viveria, geraria seu pai e você nasceria podendo criar a máquina.
Como filme “de volta para o futuro”, Marty Mcfly interfere no relacionamento de sua mãe e seu pai, fazendo que eles não fiquem juntos, gerando a consequente eliminação do nascimento do McFly, que começa a desaparecer na foto. Vários filmes que abordam viagens temporais tem furos no roteiro ou explicações mal dadas. O motivo? São paradoxos, logo, há contradições que não podem ser remediadas.
A solução mais comumente usada é de linhas temporais diferentes, com múltiplas realidades simultâneas. Matematicamente é possível, mas tecnologicamente fora do alcance de comprovação atualmente.
Outro argumento é que, se máquinas do tempo fossem viáveis, por que não temos turistas do futuro nos visitando? Seria necessário primeiro a construção de uma máquina e, a partir dela, ou daquele momento, viagens ao passado seriam possíveis (o passado anterior à ela permaneceria inacessível)?
Recentemente saiu uma notícia sobre a descoberta/criação de “cristais do tempo”, onde cientistas alegam ter conseguido fazer com que, em um sistema fechado, um conjunto de elétrons em posições conhecidas se desorganizassem, com prega a 2a lei da termodinâmica e entropia, e retornassem ao estado anterior espontaneamente, sem uma força atuante, como se nada tivesse ocorrido. Atribuíram à isso uma volta no tempo. As equações da mecânica quântica são reversíveis, ou seja, permitem descrever os eventos em qualquer sentido temporal (para frente ou para trás, não faz diferença no resultado).
Paradoxos temporais são os piores de se lidar.
Paradoxo de Epicuro ou paradoxo de deus.
Esse é um dos paradoxos mais controversos, pois fere ou afronta crenças religiosas bem enraizadas. Resume-se na reflexão da onipotência e benevolência divina:
- Se deus deseja prevenir o mal, mas não consegue, não é onipotente.
- Se deus é capaz, mas não deseja, então não é benevolente, é malevolente.
- Se deus deseja e é capaz, por que o mal existe? (este é o elo fraco do argumento*).
- Se não deseja e nem é capaz, por que o chamamos de deus?
A imagem abaixo explica melhor:

O elo fraco* que me refiro é justamente a incapacidade humana de provar ou desaprovar objetivamente as intenções divinas. Uma escapatória, segundo o espiritismo, é que todos os espíritos são iguais na sua criação, tendo total liberdade de se desenvolver como desejar, progredindo fazendo o bem ou estagnar-se e sofrendo permanecendo no mal. É só uma questão de tempo para que todos cheguem ao mesmo destino: a completa evolução e integração com o divino.
Mais dúvidas surgem: por que se dar ao trabalho de criar todo um processo quando poderia gerar o resultado final de uma vez? Seria esse processo o “de uma vez” lento e demorado aos humanos e outros seres apenas por estarmos presos ao tempo? Para uma entidade eterna ou atemporal, esse intervalo de tempo seria insignificante?
Outra escapatória começa com a primeira afirmação: “o mal existe? Sim”. Esse é um pressuposto, não uma verdade absoluta. É uma criação mental humana para descrever sensações agradáveis e desagradáveis, não significando, em última instância, serem intrinsecamente malignos. Seriam apenas respostas de um sistema de recompensa evolutivo, estimulando processos que privilegiem a perpetuação das espécies.
Paradoxo do mentiroso ou de Pinóquio
Ebulides de Mileto, sec. 4 a.C., perguntou: “Um homem diz que está mentindo. O que ele diz é verdade ou mentira?” Ou Pinóquio diz: “meu nariz vai crescer agora”.
O que o tal do Ebulides quis demonstrar é que, se o homem estiver mentindo, o que ele diz é verdade; se ele estiver mentindo, então o que ele diz é verdade.
O mesmo ocorre com o Pinóquio. Se ele diz que seu nariz vai crescer agora e ele cresce, então a afirmação era verdadeira e nada deveria ter acontecido. Se o nariz não crescer, então a afirmação era uma mentira e o nariz deveria ter crescido.
Nos dois casos, ocorre da negação da sentença levar ao afirmativo e a afirmação levar ao negativo. Paradoxos assim são causados por problemas de semântica e lógica, possibilidades que o uso da linguagem e criatividade humana permite: criar coisas ou ideias que não existem ou que não podem existir fora da imaginação.
Paradoxo do piloto
Um piloto, numa zona de guerra, diz que não está em condições psicológicas de continuar voando, o que indica que ele não está com problemas.
Aqui, a contradição está no pressuposto que, se o piloto estivesse realmente com problemas psicológicos graves, ele não teria condições de tomar a decisão correta de se afastar, e continuaria de qualquer modo.
Por outro lado, se ele tem a consciência de que tem que se afastar por não estar bem, significa que está saudável o suficiente para permanecer na batalha e tomar as decisões corretas.
Ou seja, se ele acha que está ruim é porque está bom, devendo permanecer; se ele não se importa, é porque está mal, necessitando ser afastado.

Ficou confuso? Ótimo. Paradoxos são para isso mesmo, para confundir quem tenta entende-los. Quem não se confunde é porque não entendeu ou não se importa em tentar.
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