
Realidade objetiva, subjetiva e intersubjetiva
Você sabe o que é realidade objetiva, subjetiva e intersubjetiva?

É mais fácil do que parece. Vou explicar.
O que é a realidade objetiva?
A realidade objetiva corresponde aos fatos concretos e mensuráveis. Situações e acontecimentos que podem ser descritos e reproduzidos. Coisas ou eventos que podem ser medidos e pesados, usando escalas e padrões definidos. Acontecem independentemente da vontade humana e não requerem nenhuma interpretação.
Uma abacate caí de um pé e se espatifa no chão. Caiu porque o ramo que o sustentava não teve mais resistência para suportar seu peso. A velocidade da queda segue leis estritamente definidas. A constituição do abacate determina se apenas amassará na queda ou se partirá em pedaços.
O que é a realidade subjetiva?
A realidade subjetiva é aquela na qual o valor atribuído à um evento, situação ou acontecimento varia de pessoa para pessoa. Não pode ser medida concretamente. É uma ideia ou conceito atribuído à um fato objetivo, ou pode ser simplesmente uma coisa inventada a partir do nada ou outras ideias. Pode-se tentar comparar os valores de uma pessoa para outra, mas não há como saber exatamente como cada uma os experimenta.
Um abacate caí de um pé e se espatifa no chão. Surpresa, frustração e contemplação são emoções e estados mentais variam de acordo com o individuo que presencia o evento.
O que é a realidade intersubjetiva?
A realidade intersubjetiva é aquela em que um grupo de pessoas determina os valores gerais ou regras, as quais o restante dos membros do grupo terão que se submeter. São invenções arbitrárias que acredita-se que fazem sentido, são boas para a coletividade ou para o bem do grupo.
Um abacate caí de um pé e se espatifa no chão. Convencionou-se chamar esse fruto de abacate, usando sons específicos produzidos pelos humanos de um determinado grupo ou usando os símbolos que sequencio aqui, que são de conhecimento comum aos que aprenderam o código português. Convencionou-se chamar o objeto de fruto, assim como verde é uma determinada frequência do espectro eletromagnético que humanos conseguem perceber. São todas invenções compartilhadas.
Estranho exemplo de realidade objetiva, subjetiva e intersubjetiva.
Uma partida de futebol. Palmeiras campeão paulista de 2020.
Objetivamente, podemos descrever como dois grupo de pessoas, vestindo roupas coloridas diferentes, que correm atrás de uma bola em um gramado. O trabalho destas pessoas é chutar essa bola em um retângulo formado por traves. Para isso, treinam por várias horas por dia e recebem papeis coloridos em troca. Correm de um lado para outro e usam seus pés para deslocar um objeto esférico, feito de plástico, para outra pessoa que usa a mesma cor de roupa.
Há também um grupo menor, onde um dos membros usa um instrumento de sopro, gerando ondas sonoras reconhecidas pelos ouvidos humanos e que interrompem ou permitem movimentação dos outros dois grupos de pessoas.
Subjetivamente, são as emoções sentidas por quem acompanha a movimentação dos grupos e do objeto esférico. Em alguns momentos uns ficam muito felizes e em outros ficam muito tristes. Uns xingam, esbravejam, praguejam, dizem coisas como o Uhuuul, chupa, toma, que merda, goleiro frangueiro e pé de rato, que são associações figurativas e que não condizem objetivamente com o fato.
Para o mesmo evento objetivo, pessoas sentem e têm reações diferentes mesmo sendo da mesma categoria, como alegria ou tristeza. Uns são mais ou menos suscetíveis, experimentando intensidades variadas de emoções. Muitas vezes reclamam da pessoa com o instrumento de sopro por ele ter emitido o som indevidamente, na opinião delas, sugerindo que a progenitora dele pratica rituais de acasalamento em troca de papeis coloridos.
Quanto mais papeis coloridos recebem, mais felizes ficam. Se acaba o papel, se lamentam.
Intersubjetivamente, são os conjuntos de regras ou normas que os grupos aceitaram partilhar e que é de conhecimento coletivo. Alguns indivíduos decidiram que se uma pessoa chuta o objeto esférico e ele entra no retângulo, vale um ponto ou gol. A regra inventada diz que, o grupo que tiver a mesma cor da roupa e chutar mais objetos esféricos no retângulo do que o outro grupo com roupa diferente, será o vitorioso (que também é uma invenção).
Os membros dos grupos recebem pedaços de papel colorido, os quais podem trocar por comida, abrigo, meios de locomoção e cuidados com a saúde. Podem pegar esses papéis e dar para pessoas fazerem coisas para elas, como limpar o abrigo ou preparar a comida. Em alguns casos não é utilizado o papel colorido. Em uma tela que emite luz, pode-se perceber que em determinado campo foram aumentados ou diminuídos os dígitos em relação ao valor anterior. Esses dígitos têm a mesma finalidade que os papéis coloridos.
Todos os elementos dos três grupos e aqueles que acompanham as movimentações estão familiarizados com a troca de papéis coloridos para conseguir aquilo que desejam. A troca física de papeis faz parte da realidade objetiva; o sentimento varia de quem dá e quem recebe os papeis; a troca só funcionada porque ambas as partes acreditam que os papeis tem o mesmo valor.
Outro exemplo: a chuva é um acontecimento objetivo; a alegria ou tristeza sentida ao se molhar é subjetiva; o apontamento do volume de chuva, assim como os números e a escala de marcação fazem parte da realidade intersubjetiva (necessidade do apontamento, criação de números e escalas).

Apenas para humanos ler
A realidade objetiva segue leis que os humanos nem sempre conseguem discernir ou mensurar. Não há como descrever algo objetivo sem o uso de recursos subjetivos ou intersubjetivos.
Os eventos subjetivos são percebidos individualmente e não há forma de compará-los ou atribuir valores que defina objetivamente o que dois indivíduos sentem. Ambos podem dizer que estão muito felizes. O que é ser muito feliz para um e para o outros?
Eventos subjetivos estão também restritos ao aparato psíquico morfológico dos seres. Não há como saber como é a realidade do ponto de vista de outros animais. Humanos têm sentimento de humanos, cachorros têm sentimentos de cachorros, morcegos têm sentimentos de morcegos, e cada um faz sentido somente para os do mesmo grupo.
A realidade intersubjetiva só existe para os seres humanos. Apenas os homo sapiens são capazes de imaginar coisas que não existem e atribuir valores para elas. O dinheiro, ou seja, o papel colorido, só tem valor porque decidiu-se que ele é uma boa forma de mediação de trocas de produtos e serviços.
Quando fala-se em um país, invoca-se a ideia de que é algo concreto mas, na realidade, é apenas uma invenção e que outras pessoas acreditam que respeitam os limites do que foi criado (não há uma barreira física no mar indicando onde começa e onde termina a alegada propriedade de um conjunto de pessoas (nação)).
Outros exemplos de coisas criadas que não existem são o Google, Facebook e a internet. Nos referimos ao Google como se fosse alguém ou coisa, “o Google faz isso, o Google faz aquilo”, mas é um conjunto enorme de grupos e entidades diferentes. Um prédio existe, mas ele não é o Google, nem as pessoas que lá trabalham.
Capitalismo, socialismo, comunismo, cristianismo, judaísmo, islamismo, etc-ismo, também fazem parte da realidade intersubjetiva. Criados e usados apenas por humanos.
Finalizando, a realidade objetiva é que, uma pessoa do grupo de roupa verde chutou o objeto esférico dentro do retângulo. As pessoas simpáticas ao grupo das que usam roupa verde ficaram felizes, enquanto as da que usam roupa preto e branco ficaram tristes e raivosas, com propensão à violência. No entanto, os dois grupos, o grupo do instrumento de sopro e as pessoas que assistiram o evento concordaram que é significativo e importante, embora relativo. Um pedaço de madeira, plástico e metal foi entregue ao grupo de roupa verde e as pessoas emitiram sons pela suas bocas, os quais atribuem o significado de que o Palmeiras é campeão.
Penso sobre a materialidade deste artigo. Quais os constituintes físicos específicos que armazenam as informações?