
Perguntas de entrevista de emprego
Há diversas listas de perguntas de entrevista de emprego bem manjadas, com suas respectivas respostas, com o que dizer e o que não dizer. No entanto, para soar mais natural e verdadeiro, é importante entender exatamente o que o recrutador ou selecionador quer extrair do candidato. Muitas perguntas não são o que parecem, e saber as intenções por trás delas pode ser o diferencial para conseguir a desejada vaga. Neste artigo, vamos explorar mais a fundo o que elas escondem.

Antes, vejamos o que cada uma das partes envolvidas no processo de contratação realmente quer.
Nos sapatos do empregador
Se colocar no lugar das outras pessoas é um exercício interessante quando se deseja obter alguma coisa. Entendendo o ponto de vista do outro, a comunicação flui melhor e acordos são fechados mais rapidamente. Não é manipulação, mas o aprimoramento da inteligência interpessoal.
Um empregador quer funcionários assíduos, pontuais, dispostos a fazer hora-extra quando a empresa precisar, que não se ausentem com frequência no decorrer do dia; pessoas que não ficam batendo papo, que não reclamem, mas que opinem positivamente para a melhoria geral da empresa, ou seja, proativos; que tragam soluções para os problemas invés de só reporta-los.
Deseja pessoas que tenham conhecimento, habilidades e experiência (aqui varia de acordo com a vaga. Às vezes não precisa qualificação específica); que saibam trabalhar bem em equipe e exercer liderança quando necessário; que sejam confiáveis e honestas e, para finalizar, que aceitem receber o que é oferecido.
É simples, se você fosse contratar alguma pessoa, não gostaria que fosse assim? Obviamente, é um exagero, pois dificilmente terá alguém que tenha todas essas características.
Nos sapatos do recrutador
Para o recrutador, a vaga em aberto é um problema para ser resolvido. É muito importante ter isso em mente. Quem quer que tenha solicitado a contratação espera que o recrutador escolha o melhor, no menor tempo possível, ou seja, foi uma tarefa atribuída ou serviço contratado que precisa de uma resolução.
Se o candidato escolhido não atender ás expectativas, significa que, em parte, a seleção não foi bem feita, que o problema não foi resolvido, que tempo e recursos foram gastos em vão, com alguém que não servia. Logo, a credibilidade (e talvez até o emprego) do recrutador fica em cheque.
As perguntas de entrevista de emprego servem para o selecionador resolver o problema adequadamente. Não quer ter retrabalho com novas entrevistas para o mesmo cargo. Nos RHs, todo o processo burocrático de admissão e dispensa é um fardo a mais para lidar. Ninguém quer trabalho adicional e nem quer ficar mal visto como incompetente. Você gostaria?
Você, candidato, deve ser a solução para este problema.
Nos sapatos do candidato
Como candidato, você quer que o processo seletivo seja pouco competitivo, que as entrevistas sejam as mais breves possíveis, que te escolham logo de uma vez, que paguem o quanto solicitou como pretensão salarial e que o pacote de benefícios seja completo. Quer que te escolham porque você está desempregado ou quer mudar de empresa, que você é uma boa pessoa e precisa trabalhar. Mesmo não tendo todos os requisitos solicitados na vaga, você manda o seu CV no ” colar, colou” afinal, eles sempre exageram no que pedem, certo? Vai que, né… quem sabe, talvez, te chamem.
Entrevistas são estressantes, um monte de perguntas chatas, que você tem que mentir, fingir, dar respostas prontas e sorrir para todo mundo. Sorria e cumprimente todos, olhar nos olhos, aperto de mão firme. Atenção com a postura corporal! Não pode ser quem você é naturalmente, senão ninguém te contrata. Saber que você gosta de beber uma cervejinha no fim do dia, nem pensar.
Recomendam que se prepare, treine, conheça a história da empresa, se informe sobre a média salarial para a vaga; se arrume adequadamente, nada de perfumes fortes nem muitos enfeites, use cores neutras, se possível; não chegue atrasado, suado ou com bafo de cigarro. Quanta coisa para se preocupar!
De fato, é chato, mas é o que normalmente precisa ser feito. Se tiver preguiça ou má vontade nesta fase, melhor nem sair de casa. E esqueça que a vaga está lá por sua causa e que o processo será moleza.
Choque de desejos diferentes
Deu para perceber que é praticamente impossível todos os envolvidos ficarem felizes. Todos tem que ceder, se esforçar e se ajustar (embora a empresa seja mais inflexível). Apesar da experiência e capacidades individuais, a dinâmica envolve vários fatores externos, emoções, sentimentos, preconceitos e, no fim, acaba sendo uma tentativa. Alguns casos exigem mais rigor e múltiplas etapas; outros vão no “olhômetro” e no feeling.
Existe uma metodologia meio padronizada, com pequenas variações nas perguntas de entrevista de emprego, que cobrem o mínimo para se ter uma noção do candidato. Vejamos alguma das mais comuns:
Perguntas de entrevista de emprego mais frequentes:
1 – Fale um pouco sobre você …
2 – Quais os seus defeitos? E quais suas qualidades?
3 – Por que está interessado em trabalhar aqui?
4 – O que o diferencia dos outros candidatos?
5 – Como você age sob pressão?
6 – Qual foi a sua maior conquista profissional?
7 – Você não se acha muito qualificado para a vaga?
8 – Qual sua pretensão salarial?
9 – Por que você quer trabalhar para nós? …
10 – Dê um exemplo de onde você foi capaz de usar suas habilidades de liderança.
11 – Onde você se vê em cinco anos?
12 – Por que devemos contratá-lo?
13 – Você trabalha bem em equipe?
São perguntas padrões e são sugeridas respostas padrões. Algumas são simples, outras precisam de uma elaboração melhor. “O que” é dito é importante, mas o “como”, pesa mais.
Na maioria das vezes, estas questões são suficientes. Muitas entrevistas nem chegam a tanto.Variações dependem do perfil da vaga. Critérios de desempate vão para pretensão salarial e experiência.
No entanto, um recrutador experiente sabe reconhecer mentiras e ler nas entrelinhas. Usam “pegadinhas” (ou “bolas curvas”, como chamam os americanos e ingleses as perguntas difíceis ou críticas) e o candidato acaba falando mais do que devia por não entender o que foi perguntado exatamente. Fica no limiar do ético e do legal. Vejamos algumas delas, o que realmente querem saber e quais as possíveis melhores respostas.
Nota: entrevistas mais longas, com perguntas diferenciadas como as que listarei a seguir, são mais raras, servindo para cargos importantes ou que precisem ter uma alto rendimento.

Perguntas de entrevista de emprego incomuns
Se você fosse um animal, qual seria?
Real intenção: como você reage à perguntas inusitadas e inesperadas e para as quais não tem uma resposta ensaiada. Ver o grau de criatividade, espontaneidade e flexibilidade.
Dica: entre no jogo e divirta-se. Não deixe a surpresa e a estranheza te pegar desprevenido.
Não há resposta certa, apenas é avaliado a desenvoltura no que é dito e grau de coerência. Podem ter variações como qual “super-herói” ou qual “cor” você seria. Tanto faz, a tática é a mesma. Ainda, serve para avaliar o senso de humor do candidato, o que pode ser um diferencial em trabalhos em equipe.
Todo CV tem pelo menos uma mentira. Qual é a sua?
Real intenção: chacoalhar o coqueiro para ver o que cai e causar surpresa e indignação.
Dica: mantenha-se firme e diga que não há nenhuma.
Serve para testar se realmente há algo errado mas, mais ainda, para ver a reação frente uma acusação infundada e se consegue lidar com naturalidade. Não há razões para mentir em um CV e, se está tranquilo com isso, não há porque se abalar. Por outro lado, se tentar consertar algo, contradizendo-se, pode ser desastroso e arruinar o processo inteiro.
A pergunta é feita porque pesquisas mostraram que 20% dos candidatos admitiram terem incluído alguma mentira.[1]
Você já foi despedido?
Real intenção: saber se a dispensa é o motivo da mudança de emprego e intervalo entre um e outro. Saber se pode ocorrer novamente e o que mudou desde lá.
Dica: responda somente se perguntado (não dê a informação de bandeja), sendo sincero e explicando as circunstâncias envolvidas.
Ser demitido é embaraçoso e passa a impressão de incompetência, no entanto, é uma coisa comum (Steve Jobs, Walt Disney, Thomas Edison, Elvis Presley passaram por isso). Durante a explicação sobre sua trajetória profissional, diga que “saiu de uma empresa e depois entrou em outra”, o que não é uma mentira, apenas uma forma diferente de contar a transição. Se perguntado, responda sem rodeios e conte a verdade. A maioria dos RHs ou empresa de seleção vão checar os antecedentes, conversar com pessoas por onde você passou. Se as histórias divergirem, pode lhe custar a vaga.
Outra coisa importante (e básica) é nunca jogar a culpa ou responsabilidade para a empresa ou chefe (mesmo que tenha sido injustiçado) ou falar mal deles. Soa como desculpa e é antiético. Aproveite para expor os motivos, incluindo as razões que acredite que o fato não se repetirá.
Se você fala mal das empresas anteriores, falará mal da que quer entrar, caso seja demitido posteriormente.
Você prefere que gostem de você ou ser temido?
Real intenção: saber seu estilo de liderança e como você lida com perguntas que possam te comprometer.
Dica: mostre que entendeu as opções, mas responda usando um outro termo neutro.
As duas opções são ruins: se quer que gostem de você, pode ser condescendente, flexível e tolerante em demasia, fazendo vista grossa e deixando o barco seguir; se quer ser temido, pode ser arrogante, prepotente, inflexível e carrasco.
É necessário encontrar um meio termo, como “respeitado”. Para um trabalho bem feito, não é necessário agradar todo mundo e nem que todos gostem de você, e para que os subordinados cumpram as ordens não é preciso usar um chicote.
Responda que ser temido não é algo positivo (não se esquivando da pergunta), mas complemente usando um adjetivo intermediário, mostrando que o bem estar da equipe é importante, assim como o cumprimento das tarefas que distribuir.
Você já roubou uma caneta de alguma empresa?
Real intenção: saber se vai fingir ser o “caixas super-honesto” ou se vai admitir que já pegou algo que não lhe pertencia.
Dica: o recrutador está mais interessado no seu caráter do que no estoque do escritório.
Essa é uma das perguntas de entrevista de emprego que mais revela seus valores. Dizer que nunca pegou nada é provavelmente mentira (uma caneta, um clip de papel, copo plástico, etc), e todo mundo sabe disso. Por outro lado, admitir abertamente que já pegou, sendo honesto demais sobre sua desonestidade, é comprometedor. O problema é a palavra roubar.
Dizer que já usou clips de papel da empresa em documentos particulares, ou que acabou levando um caneta no bolso sem querer pode ser uma saída aceitável, transitando entre admissão de ter pego algo de valor insignificante e que esquecimentos e lapsos podem ocorrer. Pode dizer que leva a caneta para casa na bolsa mas que traz no dia seguinte. Não use a palavra roubar.
É aceitável mentir no ambiente de trabalho?
Real intensão: saber do seus valores internos.
Dica: diga que sabe que é um prática comum, mas que não faz parte do clube dos mentirosos.
Essa é um pergunta controversa. Há livros e manuais dizendo para nunca admitir que mente, mesmo adicionando atenuadores ou circunstâncias. A abordagem mais agressiva, dizendo que fará tudo pelo bem da empresa, incluindo mentir para clientes e fornecedores, não é uma boa saída, embora, dependendo do perfil do empregador, possa ser bem vista. Muda de acordo com a ética e cultura do lugar, por isso é importante fazer uma pesquisa.
Há também a omissão e compartimentalização de informações, que podem ser necessárias em algum momento, principalmente em cargos de liderança ou gerencias. Isso pode ser encaixado nos atenuadores citado anteriormente, como um eufemismo para mentira.
Na minha experiência profissional, como gerente de PCP em uma fábrica, era impossível não reter informações ou ter que despistar boatos. Um exemplo: um subordinado meu, de uma das plantas da empresa, me pediu conselhos se era um bom momento para fazer um financiamento de um terreno, e confiava no meu julgamento. O problema é que eu sabia que a unidade que ele trabalhava seria desativada em alguns meses, e eu não podia vazar a informação para não criar tumulto entre o pessoal de lá, pois ainda era segredo.
Poderia ter dito que não entendia do assunto e que não estava por dentro, o que seria verdade. No entanto, como era um bom colega, não quis deixa-lo na mão, e falei que seria melhor ele esperar um pouco mais, juntar o dinheiro para dar uma entrada maior. Foi uma mentira para preservar o sigilo que meu cargo exigia e uma forma ajudar a pessoa. Não me arrependo da decisão, de ter mentido deliberadamente, mas é algo que pode não ser bem visto em entrevistas de emprego.
Onde seu chefe pensa que você está agora?
Real intensão: saber o quanto você tende a mentir.
Dica: diga a verdade. Para ambas as partes.
Essa pergunta é válida quando já tem um emprego e está tentando uma vaga em outro lugar. Pessoas tendem à usar o “resolver problemas particulares” como a melhor saída, porém é considerado por alguns entrevistadores como uma resposta ruim. Enquanto seu chefe pensa que está com dificuldades, você está fazendo entrevista em outra empresa. Qual o problema disso? Você pode fazer o mesmo no novo trabalho. É um teste de idoneidade, franqueza e indica como é o relacionamento entre seu superior.
É complicado para todos. Os piores cenários ocorrem quando não diz a verdade ao chefe e é aceito ou quando diz e não passa na entrevista.
Tive um caso, quando um líder da minha equipe se ausentou, alegando consulta médica. Era horário de pico de nossas rotinas e depois, quando cobrei, disse que esqueceu de pedir o atestado. Essa pessoa não deixava passar um centavo à menos na folha de pagamento. Muito estranho e incomum. Dias depois, mesma coisa, mesmas desculpas. Eu sabia que tinha coisa errada. Soube quando veio me comunicar que havia conseguido outro emprego.
Quando me contavam com antecedência, eu procurava manter os que eram bons, negociando aumentos salariais, ou permitia que os ruins seguissem seu caminho, às vezes até conseguindo que fossem demitidos para receber os valores da rescisão. Não desta vez. Apenas ouvi, segurei minha insatisfação, e disse: “ah, sabia que estava mentindo!” e na sequência, “pode ir para o RH solicitar o desligamento”. Não perguntei os motivos, nem a empresa, nem nada. Fiquei chateado por não ter me avisado e pelas mentiras.
O que gosta de fazer no seu tempo livre?
Real intensão: saber se o que faz pode interferir no rendimento no trabalho ou na imagem da empresa.
Dica: cite uma ou duas coisas, mas enfatize que nenhuma delas afeta seu desempenho.
Perguntas de entrevista de emprego como esta parece apenas bate-papo ou um momento de descontração, mas não se engane. Através dela dá-se para inferir várias coisas que não podem ser questionadas diretamente como religião, orientação política, algum tipo de ativismo, ou se um de seus hobbies pode fazer com que falte, se ausente ou ir trabalhar sem ter dormido à noite. Mais além, previne que o nome da empresa apareça como manchete em portais de notícias e rode as redes sociais de maneira negativa, devido às atividades privadas de um empregado.
Um exemplo claro é se faz bicos como DJ em baladas ou festas noturnas. Isso pode fazer com que durma pouco, comprometendo sua capacidade de trabalhar no dia seguinte. Ou se faz retiros espirituais, protestos, participa de torcidas organizadas, ou se é um nerd fanático por convenções e eventos, podendo faltar com frequência por priorizar essas atividades. Quanto mais falar, mas abertura o entrevistador terá para cavar mais fundo, na divisa do ilegal e antiético.
Embora a discriminação e preconceito sejam crimes, há algumas diretrizes informais embutidas na cultura da empresa ou características de determinada equipe de trabalho que faz que certos tipos de candidatos sejam excluídos, por que o entrevistador sabe que causarão transtornos no futuro.
Empresas privadas estão longe de serem democracias. Dar espaço para minorias ou ser igualitária é algo determinado pela direção, de acordo com o segmento, visão, missão ou crenças pessoais do dono. Negar que a prática existe é ingenuidade. Admiti-la é suicídio profissional. Fica numa zona cinzenta. O selecionador experiente transita nessa área, sabendo que sua tarefa não é salvar o mundo. Lembre-se, ele tem um problema para resolver e não dever criar outros no processo.
Conclusão
Perguntas de entrevista de emprego podem ter intenções subliminares. Enxergar a seleção pelos olhos do entrevistador pode ser uma boa estratégia. Concentre-se no que a empresa precisa e como você pode ajudar a resolver a situação. Aproveite as perguntas para enaltecer suas qualidades, sem parecer pretensioso ou se gabar, usando exemplos ou contando histórias sempre que possível. Tenha em mente que a vaga não existe em função de você e qualquer tentativa de clamar por ela porque está necessitando do emprego, não fará com que seja contratado.
Fonte: boa parte das informações usadas foram baseadas no livro “101 Job interview questions you’ll never fear again“, do autor James Reed, presidente da REED.CO.UK, uma das maiores empresas de recrutamento e seleção da do Reino Unido e Europa. [1] pesquisa apresentada no livro “put your mindset to work“
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