
Novas regras de privacidade do Whatsapp
As polêmicas novas regras de privacidade do Whatsapp, que permitirão o compartilhamento e uso das informações dos usuários com o Facebook, têm dado o que falar, gerando reações bem extremas por parte de pessoas influentes e órgãos de regulamentação. Neste texto, veremos quais os motivos para o alarde e qual é o impacto na vida das pessoas.

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Poder do Whatsapp
Muito provavelmente você seja usuário do Whatsapp, assim como eu e tantos outros. Os números abaixo, compilados de uma pesquisa feita no começo do ano de 2020, mostram o tamanho do gigante que ajudamos a criar. [1]
- Atualmente, existem 2 bilhões de usuários do WhatsApp no mundo inteiro.
- Mais de 120 milhões de pessoas usam o app no Brasil.
- O WhatsApp está instalado em 99% dos celulares do Brasil.
- 79% dos brasileiros usam o app como principal fonte de informação.
- Cerca de 5 milhões de empreendedores usam o WhatsApp Business.
- 98% dos brasileiros usam o app diariamente.
- 65% dos brasileiros têm o hábito de usar o app à noite, pouco antes de dormir.
- Adultos com mais de 45 anos são os que mais utilizam o WhatsApp no Brasil.
- O recurso Status já conta com meio bilhão de usuários ativos diariamente.
Foi criado em 2009, como uma alternativa ao SMS para troca de mensagens, e foi comprado pelo Facebook em 2014 pelo valor de 22 BILHÕES DE DÓLARES, devido ao crescente volume de usuários.
Não é para menos. É um aplicativo fácil e simples de usar; você não gasta créditos de telefonia móvel se estiver conectado à uma rede wi-fi; permite troca de mensagens, fotos, documentos, vídeos, áudios; conversar por voz e por vídeo; possibilita criar grupos para compartilhar informações de interesse comum (ou nem tanto). As regras de privacidade do Whatsapp incluem a criptografia de ponta a ponta nas conversas, “assegurando que ninguém no meio do caminho possa intercepta-las”. Além de tudo é GRÁTIS e sem propaganda.
Para quem não sabe, criptografia significa em grego: kryptós, “escondido” + gráphein, “escrita” [2], que nada mais é que é um conjunto de técnicas que transformam dados em códigos que só podem ser decifrados por quem tenha uma chave de acesso. Simplificando, embaralham as informações de um modo complexo de forma que só quem conhece ou tem acesso à esse modo pode restaurar os dados originais.
Tornou-se um hábito para muitos enviar mensagens de bom-dia, boa-tarde, boa-noite, sextou e outras coisas de gosto duvidoso. Caiu no gosto popular mandar um “zap”, inclusive idosos.
Ponto central das novas regras
Os novos termos de privacidade do Whatsapp, recentemente enviados aos usuários diz, de maneira impositiva, que as informações trocadas pelo aplicativo serão compartilhadas e usadas pelo Facebook. As mudanças valem à partir de 08/02/2021 e quem não concordar… que procure outra alternativa. O pacote incluí também a integração com o Instagram e Messenger, que pertencem ao mesmo grupo.
Simples assim, ou aceita compartilhar seus dados,ou não usa o serviço, sendo “convidado” à apagar o app e desativar a conta.
Segundo a notificação, o objetivo da coleta das informações é “operar, fornecer, melhorar, entender, personalizar, oferecer suporte e anunciar nossos serviços”. Ok, é um direito deles. Aceitar é com o usuário.
Os dados compartilhados são o número de telefone e outros dados que constem no registro (como o nome); o número de IP, que indica a localização da conexão à internet; qualquer transação financeira realizada através do app; informações sobre o aparelho, incluindo a marca, modelo e a operadora de telefonia móvel.
O endereço IP é um número exclusivo atribuído a cada computador/celular/dispositivo por um protocolo de internet. O endereço IP tem a função de identificar um aparelho em uma rede. Significa Internt Protocol. Você pode mudar ou ocultar o nome do usuário em um computador, mas não tem como mascarar o IP, a não ser com uso de uma VPN (virtual private network – rede virtual privada), mas isto é assunto para outra ocasião.
O pior é o compartilhamento dos números dos contatos, atualizações de status, atividades do usuário no aplicativo (como tempo de uso ou o momento em que ele está online), foto de perfil e o que mais fizer.
É motivo para tanto alarde?
Do ponto de vista prático, não, pelo menos para a esmagadora maioria, por que não há um cuidado ou consciência do uso de seus dados e como podem ser usados para manipular os conteúdos que recebe. Compartilha-se tudo, de maneira inconsequente.
Além disso, a troca já ocorria desde julho do ano passado, mas com a opção de escolha do compartilhamento pelo usuário. A partir de fevereiro, será compulsória.
Por outro lado, o condicionamento do uso de um serviço com outro, fere os princípios dos direitos do consumidor, inclusive o IDEC (instituto brasileiro de defesa do consumidor) pretende estudar medidas contra o Facebook.
Mesmo sendo de forma clara, explícita e com antecedência, as regras não foram bem digeridas pela comunidade internacional, que já era antipática ao crescente volume de informações e poder que a empresa detém.
Onda migratória para outros aplicativos concorrentes
Um ponto relevante, e que pode ser usado para medir o impacto das mudanças da privacidade do Whatsapp, é o grande volume de downloads feitos de aplicativos concorrentes, como o Telegram e o Signal. O trilhonário Elon Musk, o homem mais rico do mundo, tuitou a seguinte mensagem “USE SIGNAL”. Bom, ele deve saber uma ou duas coisas de como esse mercado funciona.
Isso indica a indignação mundial com relação à nova política do uso dos dados do Facebook.


Como isso afeta o cidadão comum
Como citado anteriormente, na prática será pouco sentida pela população. Talvez o ponto mais crítico seja o acesso dos contatos de uma conta do Whatsapp pelo Facebook.
Imagine que você tem uma conta no Face para recreação, com um grupo distinto de “amigos”, e no Whatsapp, seus contatos profissionais de fornecedores e clientes. Gostaria que um fosse misturado com o outro? Acha aceitável que seus hábitos e interações de plataformas com propósitos distintos sejam compartilhados?
No seu feed aparecerá propagandas relacionadas ao trabalho ou pior, seus contatos e preferências sendo enviados para concorrentes. O Facebook pode, e fará. A quebra da privacidade do Whatsapp, depois de tanto tempo acumulando dados e usuários é como uma traição ou mudar as regras no meio do jogo.
GDPR – General Data Protection Regulation e a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados
Um ponto que chama a atenção é o fato de que as novas regras de privacidade do Whatsapp não valem para a União Européia, que vem lutando há bastante tempo para proteger o direito do uso das informações de seus cidadãos. Diversas batalhas foram travadas, principalmente com o Google.
Isso significa que há algo de pernicioso nessa mudança. Se fosse algo bom, não seria aplicável para todos?
O GDPR (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados) contém cláusulas e exigências relativas à forma como são tratadas informações pessoais na União Europeia e é aplicável a todas as empresas que operem no Espaço Econômico Europeu, independentemente do seu país de origem. [3].
Os processos empresariais que tratem dados pessoais são obrigados a serem desenvolvidos, desde a sua base e início, com medidas que respeitem os princípios da proteção de dados por defeito ou vazamento. Os dados devem ser guardados usando pseudônimos ou anonimato completo e as mais elevadas configurações de privacidade por padrão, de modo as que informações não possam ser disponibilizadas sem consentimento explícito, e não possam ser usados para identificar alguém sem ajuda adicional armazenada em local separado.
No Brasil há a LGPD, algo similar à legislação européia, mas sem tanta força. Foi muito debatida e nem todos os pontos definidos. O dilema é em torno dos direitos individuais, liberdades de expressão e anonimato.
Em agosto de 2020, a seguinte nota foi declarada pelo Whatsapp: “Você tem o direito de acessar, corrigir, portar, eliminar seus dados, além de confirmar que tratamos seus dados”, baseada na LGPD”. O compartilhamento compulsório entre plataformas não estava envolvido.
O botão irritante que aparece na maioria dos sites, informando que são usados “cookies” para armazenamento de dados do visitante, veio em decorrência GPDR.
Porquê suas informações são importantes para estas empresas?
Os dados e informações pessoais são a grande riqueza do momento. Há uma briga enorme pela captação, análise e aplicação destes dados para ajudar empresas a vender melhor seus produtos e serviços. Quanto maior o conhecimento sobre as preferências de alguém, maior a chance de ocorrer uma venda ou gerar a indução de determinado modo de agir. De maneira muito sutil, guiam comportamentos de acordo com seus interesses.
Partem do princípio que a realidade individual é o conjunto de informações e estímulos à que alguém está submetido. Logo, se fornecerem uma determinada narrativa, consistente e vinda de vários canais diferentes, as pessoas tenderão a tomar aquilo como verdade e agirão de acordo.
Um exemplo disso é o escândalo envolvendo a Cambridge Analytics e o Facebook, acusados de interferir no processo das eleições nos EUA, manipulando informações entre eleitores mais suscetíveis e indecisos.
É uma forma mais agressiva de CRM (customer relationship management – gerenciamento de relações com o cliente), usada muito em departamentos de venda e marketing. A diferença é que antes as informações eram coletadas manualmente com “colheres”; agora são com “retroescavadeiras” automatizadas.
Empresas pagam fortunas para quem lhes ofereça informações de possíveis clientes e usuários, podendo direcionar melhor seus anúncios e propaganda. É como pescar em um barril.
A quebra da privacidade do whatsapp nos transforma em ponteciais peixes.
Por exemplo, um comercial durante o “Jornal nacional” é bem caro, alcança milhões de pessoas, mas é um tiro único em um alvo disperso (pessoas com interesses diferentes), assim como a atenção do telespectador é imprevisível (aproveitam o intervalo para ir ao banheiro). Por outro lado, um anúncio em um canal de um youtuber famoso pode ser mais barato e é muito mais efetivo nos dias de hoje, por ser mais direcionado e mais duradouro.
Dando ouro de bandeja
Apesar do valor dessas informações, nós as fornecemos espontaneamente e de bom grado. Todos os compartilhamentos, likes, comentários e pesquisas são vorazmente capturados, analisados e então devolvidos para nós em forma de propaganda. Ninguém nos obriga a postar foto do passeio na praia, do carro novo, da balada que fomos, do filme que assistimos, etc. No que parece ser um serviço gratuito e bacana, nos esbaldamos com as possibilidades sem nos darmos conta que estamos sendo usados.
Há uma máxima que eu aprendi ao começar com o site:
Se algo é de graça, VOCÊ é o produto.
Não se engane. O Google, tão bonzinho, deixa a gente pesquisar o que quiser; o Face nos conecta com nossos amigos; o Whatsapp permite ligações gratuitas. Pode ter certeza que não é por caridade. Coletam e usam seus dados.
A maioria dos aplicativos e serviços tem a versão “pró”. O de graça sempre tem um preço.
A mudança nas regras da privacidade do Whatsapp é a colheita farta de zilhões de dados que vínhamos plantando. O problema é: sabíamos que seríamos saqueados, ou que o senhor da fazenda viria cobrar sua parte?
Privacidade do Whatsapp é tão privada assim?
O conteúdo das mensagem do Whatsapp é dito como privado e inacessível, de acordo com a já citada criptografia. No entanto, mas como especulação do autor, uma fonte tão rica de informações seria mesmo inviolável? Perderia uma empresa privada (e agressiva) como o Facebook, a chance de bisbilhotar informações que correm em seus próprios servidores, e usa-las, mesmo que de forma indireta?
Talvez essas as novas normas de privacidade do Whatsapp sejam apenas uma justificativa para usar mais amplamente essa mina de ouro. Pensem, 22 bilhões de dólares seriam investidos à toa, para oferecer um serviço de graça, sem obter nada em troca?
Nas redes sociais, muitos não têm o cuidado e expõem mais do que devem, enquanto outros já temem pelas repercussões do que é postado. Já no Whatsapp, com o senso de segurança de que ninguém está vendo, são trocadas informações muito mais íntimas e detalhadas, fornecendo um perfil superiormente melhor dos hábito das pessoas. Acha que o Facebook perderia essa oportunidade? Fica a reflexão.
O que esperar pela frente
Alguns grupos e entidades de classe podem se manifestar e tentar amenizar ou impedir certas práticas das Gigantes da informação, protegendo os interesses de uma massa que não faz a menor ideia do que está acontecendo, mas o estrago está feito. Com o mundo interconectado e muitos serviços online, fica praticamente impossível não ter seus dados usados de alguma forma nociva.
Por outro lado, conteúdos cada vez mais específicos e direcionados aos interesses particulares dos usuários farão com que sintam maior vontade de continuar usando esses serviços. Facebook, Google, Amazon e outras, não só saberão os desejos das pessoas, mas anteciparão e farão sugestões de coisas que as pessoas nem sabiam que queriam. Escolherão melhor do que nós. E ficaremos muito felizes por isso.
E você, achou preocupante essa mudança de privacidade do Whatsapp ou não se importa? Comente.
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Achei preocupante. Poderão agora usar esses dados legalmente. Mas na prática, muda algo de fato? E quais alternativas existem? Pouca gente vai passar a usar os outros aplicativos, impossibilitando de se comunicar com muita gente… Muito poder para uma só empresa…