
Gestalt Terapia e a Cadeira Vazia
Os terapeutas usam muitas técnicas e abordagens para ajudar seus pacientes a lidar com problemas mentais e emocionais. Uma delas, a Gestalt Terapia, tenta ensinar as pessoas a se conscientizarem de sensações significativas dentro delas mesmas e de seu ambiente, para que respondam plena e razoavelmente às situações do dia-a-dia. (Lê-se “Guêstalti”)

Uma das técnicas mais populares da Gestalt Terapia é a da cadeira vazia. Se você estiver fazendo terapia, há uma boa chance de que sua psicóloga o guie por meio desse método simples e fácil de entender durante uma de suas sessões. Neste artigo, veremos essa técnica com mais detalhes, juntamente com os motivos comuns para usá-la. Ao final, uma breve descrição da minha experiência com o processo.
Conteúdo deste post
O que é a Gestalt Terapia?
É uma forma de psicoterapia em que o foco central está na totalidade do funcionamento e nos relacionamentos do paciente no aqui e agora, em vez da investigação de experiências passadas e histórias da vida (como é o caso da psicanálise).
Um dos motivos é que o desenvolvimento mental ocorre pela assimilação do que é necessário do meio ambiente e que a psicopatologia surge como uma perturbação do contato com ele. As técnicas da Gestalt, que podem ser aplicadas em um grupo ou em um ambiente individual, são projetadas para trazer à tona sentimentos espontâneos, a autoconsciência e promover o crescimento da personalidade.
Algumas técnicas usadas são a encenação, a técnica da cadeira vazia e a técnica da cadeira quente, abordagens experimentais baseadas em evidências originalmente desenvolvidas por Frederick Perls (1893–1970), Laura Perls (1905–90) e Paul Goodman (1911–72) como uma revisão da psicanálise. É, ao mesmo tempo, experiencial e experimental, dialógica, orientada para o campo e fenomenológica.
Gestalt é uma palavra de origem Alemã, e significa forma. Apesar do nome, não está diretamente relacionada com a psicologia da gestalt, ou psicologia da forma, que postula que o conjunto é maior do que a soma das partes, contrapondo-se ao atomismo ou reducionismo do inicio do seculo XX, e está fora do escopo deste artigo.
Também não confundir com “gestapo”, que era a abreviação e apelido da polícia secreta alemã (Geheime Staatspolizei).
Qual é o objetivo principal da Gestalt Terapia?
A Gestalt Terapia busca resolver os conflitos e ambiguidades que resultam da falha em integrar características da personalidade. É um método de tratamento em que o profissional da saúde leva o paciente a se sentir mais íntegro e completo. É juntar todas as peças da dor, a situação do passado, o futuro e as emoções sentidas atualmente (disso vem a similaridade com a psicologia da forma).
A Gestalt Terapia dá ênfase ao ganho de consciência do momento presente e do contexto atual. Por meio da terapia, as pessoas aprendem a descobrir sentimentos que podem ter sido suprimidos ou mascarados por outros sentimentos e a aceitar e confiar em suas emoções.
Enfatiza o que chamam de “holismo organísmico”, que é a importância de estar ciente do aqui e agora e de aceitar a responsabilidade por si mesmo, diferente da terapia existencial, por exemplo, que se concentra no livre arbítrio, na autodeterminação e na busca de significado.
Quanto tempo leva a Gestalt terapia?
Gestalt terapia não é uma ‘solução rápida’. O tratamento é demorado e adequado às necessidades individuais. A duração do tratamento varia para cada pessoa, girando em torno de alguns meses a um ou dois anos de reuniões semanais ou quinzenais, dependendo da natureza dos seus problemas.
O tipo de abordagem terapêutica psicológica depende da gravidade do caso e da especialização do profissional de saúde que lhe atenderá.
O exercício da cadeira vazia
É uma técnica originada na Gestalt Terapia, na qual o paciente conduz um diálogo emocional com algum aspecto de si mesmo ou de alguma pessoa significativa, que se imagina sentado em uma cadeira vazia durante a sessão. O paciente então troca de cadeiras e assume o papel daquele aspecto ou daquela outra pessoa. Esse exercício às vezes também é chamado de técnica das duas cadeiras.
Na cadeira, você imagina a pessoa com quem está enfrentando um conflito ou uma parte de si mesmo. Então, você não falará com a cadeira vazia, o objeto, mas sim com a forma psico-emocional de um conceito que têm sobre algo, como seus sentimentos, pensamentos e compreensão da situação. É uma conversa guiada consigo mesmo.
Por exemplo, muitos podem sonhar com pai falecido, desejando um desfecho ou reconciliação. Mesmo não sendo ele, sua mente tem um versão do que acredita representa-lo, e é com esse modelo que vai interagir.
Indicações:
- Lidar com traumas do passado.
- Aconselhamento individual para casais.
- Ajudar a ganhar insights dos relacionamentos que participa.
- Lidar com o luto.
- Preparação para futuros encontros.
- Ajudar a identificar os próprios sentimentos.
- Facilitar a livre auto-expressão.
- Ajudar a melhor a suas habilidades de comunicação.
Preparação
Quando ficar claro que você precisa expressar algo a alguém que não está disponível para você, sua psicologa pode sugerir a técnica da cadeira vazia. A pessoa com quem você precisa falar pode ser falecida, distante ou emocionalmente indisponível, mas ainda pode ajudar a se expressar como se ela estivesse lá. Sua terapeuta simplesmente colocará uma cadeira vazia à sua frente e pedirá que você finja que a pessoa com quem você precisa falar está sentada nela. Em seguida, convidará a dizer o que quiser para ela.
Normalmente há um exercício de relaxamento prévio, como fechar os olhos e respirar ou, se a profissional tiver experiência com hipnose, pode conduzir o relaxamento progressivo consentido, que promove a suspensão parcial dos filtros conscientes que poderiam bloquear alguma expressão reprimida.
Sua parte
Tudo o que você precisa fazer é dizer o que vier à mente. Algumas pessoas acham difícil começar. Se você tiver dificuldade em imaginar que a pessoa está sentada ali, não se preocupe muito com isso. Vá em frente e comece a dizer o que quiser. Conforme você fala o que pensa, provavelmente começará a sentir como se estivesse falando diretamente com aquela pessoa. Nem prestará mais atenção na cadeira vazia.
Em algum momento, será pedido que você troque de cadeira, mudando seu papel. Neste ponto, você representará o individuo que estava conversando anteriormente, dando as versões do crê serem as motivações por traz de suas ações. As trocas ocorrem de acordo com o andamento da sessão e respostas emocionais do paciente.
A preparação prévia ajuda na desinibição e constrangimento que podem surgir no começo do exercício.
Intervenções
Durante a sessão, a profissional da saúde pode fazer perguntas ou sugerir tópicos que você queira discutir. Isso o mantém engajado na experiência e no caminho certo para lidar com o problema que está lutando para superar. Se você ficar extremamente ansioso, zangado ou chateado, a terapeuta pode intervir para ajudá-lo a lidar com essas emoções desagradáveis.
É importante saber quando fazer as trocas para não interromper um fluxo de informações, assim como é necessário manter o rumo da conversa no assunto em questão. Pela dificuldade em lidar com certas confrontações, pode haver a tendência de se esquivar do problema.
Resultados
Depois de dizer tudo o que gostaria de dizer (ou tentar), você pode sentir uma sensação de alívio e plenitude. Você pode até se sentir preparado para falar diretamente com a pessoa (se for possível). Quando terminar este exercício, você e sua terapeuta também podem aprender algo novo sobre seus problemas com essa pessoa ou situação.
É fundamental ter o encerramento apropriado da conversa, inclusive com despedidas, se for o caso. Além disso, é necessário haver uma avaliação do exercício, de como se sentiu, suas dificuldades e impressões de um modo geral. O paciente precisa sair da sessão com o reconhecimento consciente do que foi trabalhado (coisas como “eu não sabia que pensava assim”).
Uma sessão pode não ser suficiente, dependendo do desenrolar e resultados obtidos no exercício. Sugere-se um intervalo de tempo para que os pensamentos e sentimentos se assentem.

Minha experiência com o exercício da cadeira vazia
Em um dos tratamentos psicológicos que passei, fiz o tal exercício. É mais difícil do que parece e o desenrolar foi bastante intenso. Não descreverei a natureza dos conflitos, nem o motivos envolvidos, mas tentarei contar como me senti.
Minha ex-psicóloga segue a linha da TCC (terapia cognitivo comportamental) e é hipnoterapeuta também. Mesmo não sendo adepta da Gestalt Terapia, sugeriu o exercício da cadeira vazia. Na primeira vez, eu recusei, por achar constrangedor, mas ela disse que mais para frente teríamos que fazê-lo.
O alvo em questão era meu falecido pai, e eu teria que dizer as coisas que eu queria ter dito e não disse em determinada época. Depois do relaxamento, foi-me solicitado que o imaginasse sentado na cadeira vazia à minha frente. Foi estranho porque, devido a correta condução do exercício, parecia que eu estava de fato conversando com ele. Não vi nenhuma imagem, mas parecia algo tangível, embora disforme, como se uma parte de mim estivesse temporariamente descolada de minha mente.
As palavras custaram a sair. Trêmulas, com a voz baixa e embargada. Difícil de conter o choro depois de alguns minutos. Fui sendo guiado a fazer algumas perguntas, mas escolhi as que me sentia mais confortável e mais próximo do que falaria numa conversa real. Não havia mais cadeira vazia na minha frente. Naquele instante estava imerso na confusa trama de pensamentos e crenças arraigadas-ignoradas-negadas na minha memória, trazendo à tona toda a carga emocional envolvida.
Em determinado momento, ela pediu que eu trocasse de lugar fisicamente, que sentasse na outra cadeira, representando então, meu pai, falando coisas como se eu fosse ele. Esta parte foi bem interessante porque meu comportamento mudou. O choro cessou quase de imediato e a forma de falar ficou diferente. Agora eu era meu pai falando para um imaginário EU sentado na outra cadeira vazia. Como nossa cabeça é complexa!!!
Eu estava representando as crenças eu que tinha dele, o que eu achava que ele achava de mim. Obviamente que não era ele, mas minha versão distorcida e, até então, inconsciente de minhas motivações para imagina-lo da forma como costumava fazer.
Houve mais trocas de lugares, numa montanha russa de emoções e mudanças comportamentais. Em cada papel, uma personalidade marcadamente diferente.
No encerramento, não quis dizer adeus ou me desculpar, como sugeriu a psicologa, talvez ainda apegado com minha ideias e razões. Depois de um novo ciclo de relaxamento, voltei ao estado normal, se é que posso chamar assim. Estava meio tonto, sonolento, com dor de cabeça. E constrangido. Pelo menos para mim, não é agradável ficar exposto da forma com fiquei, mesmo em um ambiente seguro e controlado, embora tudo que experimentei tenha tido grande valor para meu autoconhecimento. Um evento único.
Cada um reage de uma forma, de acordo com os problemas e grau de entrega durante a sessão. Sabendo como funciona, não sei se daria certo numa nova tentativa.
Conclusão
A Gestalt Terapia, embora não muito difundida, pode ser uma boa alternativa para as abordagens tradicionais que não surtirem efeito. Muitas vezes, os pensamentos e emoções ficam circulando dentro de nós de maneira desordenada, em diálogos incompletos, parciais ou sem sentido. Apenas ruído que não ajuda em nada. Tomar ciência deles traz grandes benefícios para a saúde mental.
Além disso, certas escolas psicológicas podem ser adotadas como guias para conduzir a vida, como um modo de encarar a realidade, transcendendo as fronteiras do processo terapêutico. A Gestalt Terapia é uma delas, pois com o reconhecimento continuo e consciente dos conflitos internos, cria-se liberdade, espontaneidade e fluidez nos relacionamentos com outras pessoas.
Caso haja o interesse, leia também o artigo sobre a terapia cognitivo comportamental (TCC), clicando no link.
Nota importante: este texto é meramente informativo, não servindo de base para nenhuma indicação de tratamento ou terapia. Se estiver com problemas, procure um profissional da saúde.
Já havia ouvido falar na Gestalt Terapia ou no exercício da cadeira vazia? Já fez alguma vez? Comente.
Fontes: APA (american psychological association), betterhelp, Britannica.
Sucesso na descrição!