Comunicação efetiva e linguagem corporal

Comunicação efetiva e linguagem corporal

A maioria dos animais da Terra são seres sociais e a comunicação faz parte integrante na ligação entre os membros de grupo. Quanto menor a expressão articulada de sons e palavras imbuídas de significado, maior a necessidade da linguagem corporal. Aliás, apesar de todo refinamento do vocabulário dos humanos, ele ainda representa a menor parcela na composição de uma comunicação eficiente. Os motivos serão explicados no decorrer do texto.

comunicação efetiva
O corpo fala

Os objetivos de se comunicar eficazmente são claros e simples:

  • Transmissão adequada e inequívoca do quer que outros saibam (mesmo sendo mentira, mesmo que seja por vias indiretas).
  • Entendimento claro do que outros estão tentando lhe transmitir (percebendo as mentiras, se houverem, o contexto, as entrelinhas e os detalhes subjetivos).

Componentes da comunicação

Partes da comunicação

A comunicação pode ser dividida nas seguintes partes:

  • A emissora: aquela que transmite os sinais audiovisuais e outras formas sensoriais.
  • A receptora: aquela que capta o que o emissor transmitiu.
  • A mensagem: o que pretende ser transmitido. O assunto.
  • O canal: veículo usado para a transmissão (telefone, carta, e-mail, conversa, imagem).
  • O contexto: conjunto de ideias implícitas que acompanham a mensagem (cultura macro e micro).
  • O código: linguagem utilizada que seja comum entre o emissor e o receptor.

Isso é válido para qualquer troca de informações, seja entre animais ou aparelhos eletrônicos.

Pode parecer óbvio à primeira vista, mas tem várias sutilizas envolvidas. Um analogia válida é como uma estação de rádio que tem uma frequência específica, irradiando sua programação. Se não houver nenhum aparelho ligado ou no alcance, será inútil, não será aproveitado para nada.

Por outro lado, se um ouvinte deseja escutar determinada rádio, é necessário que ajuste seu receptor para a faixa específica.

Música ou notícias são as mensagens da rádio.

O canal é via ondas eletromagnéticas de determinada frequência, que transportam o som codificado.

O contexto é o que se espera ao ouvir determinada rádio. É esperado um determinado tipo de conteúdo (músicas de um estilo, notícias de trânsito, política, esportes). Não se sabe ao certo o que será transmitido, mas tem-se uma noção do assunto. Exemplificando, quando o locutor fala apenas “jogo do Palmeiras”, está implícito que é um jogo de futebol de determinado time, não sendo necessário detalhamentos.

O código é um conjunto informações comuns conhecidas por ambas as partes, emissora e receptora, que serve de mediador. Seguindo o exemplo, é o idioma falado.

canal certo
É preciso escolher o canal certo de comunicação

Tripé da comunicação efetiva

Restringindo o tema para interações entre animais e, mais especificamente, humanos, os três pontos principais para uma comunicação eficiente e clara são:

  • Palavras e sons que são emitidos (7%)
  • Entonação (38%)
  • Linguagem corporal (55%)

Entre humanos principalmente, o uso adequado e balanceado destas três partes é que determina o grau de sucesso entre o que foi pretendido expressar e o que foi compreendido pelo receptor. Vejamos cada ponto em detalhes.

Palavras e sons que são emitidos

Existe a atribuição de significado para os sons, um código comum compartilhado dos ruídos emitidos pela vibração das pregas vocais, que aprendemos por repetição e associação. A tem som de A. B tem som de B. Curioso pensar em quem decidiu os nomes de qual é qual, e o formato do símbolo. O som do A poderia ter o formato de B, mas alguém resolveu que A é A. Além disso, o mesmo símbolo pode ter sons diferentes de acordo com o idioma. No inglês A é EI, E é I, I é AI.

A escrita surgiu a meros 5 mil anos, enquanto os comportamentos e gestos que compõem a linguagem corporal e oral datam de dezenas de milhares de anos atrás.

Cada grupo desenvolveu seu próprio código, sendo modificado no decorrer do tempo devido o crescente contato com outras culturas. São muitas línguas e dialetos. Não é de se estranhar que as palavras correspondam por apenas 7% do que é transmitido em uma conversa. Obviamente varia de acordo com o canal utilizado. Na comunicação escrita muda para quase 100%.

Curioso, no entanto, é que nos filmes americanos a maioria das pessoas de outros países falam inglês, mesmo crianças pobres do Afeganistão, ou russos entre si (durante um ataque terrorista ou tiroteio treinam idiomas?). Americanos não gostam de legendas.

bem-vindo
Palavras para a mesma coisa

Entonação

O tom de voz é mais importante do que as palavras ditas. Percebe-se facilmente o humor e intenções de acordo como algo é dito.

Uma voz suave e acolhedora ou raivosa diz muito mais do que palavras. Ás vezes não é necessário saber o que foi dito para entender o que lhe foi comunicado.

Por exemplo: A mensagem “vem aqui agora”. Emissor e receptor humanos, canal oral via telefone, código língua portuguesa. Contexto casal de namorados.

  • Vem aqui agora! Tom irritado e áspero, indica impaciência e raiva.
  • Vem aqui agora… tom manhoso e convidativo, indica desejo da presença.
  • Vem aqui agora! Tom de desafio, indica vontade de confrontação ou luta.
  • Vem aqui agora. Tom neutro, apenas autorizando a vinda.
  • Vem aqui agora… tom choroso e desesperado, implorando pela presença.

Mesma mensagem, pessoas, idioma e canal, mas com significados totalmente diferentes. O tom da voz faz muita diferença, por isso atribuem 38% da parcela na comunicação efetiva.

Mas ainda tem outra parte mais importante e que nem sempre nos damos conta. É a que requer maior atenção e disciplina: postura corporal.

Linguagem corporal

A postura corporal e a entonação é o que realmente fazem a diferença. Um “bom dia” seco e sem contato visual tem efeito diferente de um dito com um sorriso e olhando para o interlocutor. No primeiro, quer que a pessoa suma da sua frente; no outro deseja demonstrar contentamento ao encontrá-la.

É dito que as mulheres são melhores em perceber as nuances subjacentes nas expressões do que os homens. Isso porque precisam entender o que os bebês querem enquanto não conseguem se expressar com palavras. Choro de sono? Choro de fome? Choro de cocô vazado da fralda, subindo pelas costas? Precisam compreender logo a linguagem corporal e facial dos bebês para atender suas necessidades.

linguagem corporal
Linguagem corporal é o mais importante

É comprovado que existe diferença na forma como homens e mulheres enxergam. Homens têm visão focada, em forma de túnel; já as mulheres têm um campo de visão maior, percebendo mais coisas ao mesmo tempo, porém sem detalhamento ou concentração.

De qualquer forma, em ambos os sexos, há certos maneirismos e gestos que entregam determinada intenção, sem que seja necessária a sua expressão verbal. Vejamos alguns exemplos de linguagem corporal:

  • Se uma pessoa quer fugir da conversa, o pé dela estará apontado para o lado, como preparação para sair dali.
  • A posição que uma garota cruza as pernas pode indicar suas intenções. Se for para seu lado demonstra interesse, for para o outro é rejeição. Ah, esse movimento inclui o quadril. Quadril parado está apenas se acomodando na cadeira ou sofá.
  • Uma mulher que mexe nos cabelos, expondo o pescoço, ou dos braços mostrando os pulsos, está demonstrando abertura para interação masculina.
  • Um riso de canto de boca, sustentando o olhar por alguns segundos, mostra o interesse de um homem por uma mulher. Se for no ambiente de trabalho, pode ser apenas um cumprimento.
  • A mulher pode apenas levantar uma sobrancelha para declarar interesse. Mas precisa fazer várias vezes, pois homens são mais lentos para perceber.
  • Cruzar os braços durante uma conversa ou recostar-se na cadeira indica discordância com o que está sendo dito.
  • Cruzar as pernas na cadeira e manter o punho cerrado indica tensão e medo.
  • Reclinar-se para frente indica interesse pelo que o outro está falando. A mão no queixo reforça a intenção.
  • Não manter contato visual indica insegurança ou inferioridade, se acompanhado com a cabeça baixa. Se a cabeça estiver ereta, olhando para os lados, indica indiferença.
  • Coçar o nariz ou levar a mão à boca é um sinal que indica mentira.
  • Mãos espalmadas para frente com braços levantados, indica que não é uma ameaça, que esta desarmado. Se as mãos estiverem muito próximas ao peito, pode dar a entender que está se eximindo de culpa (normalmente com um movimento da cabeça e da boca).
  • Mãos espalmadas para baixo é um pedido de calma e paciência.
  • Mãos espalmadas para cima é solicitação de compreensão ou pedindo algo.
  • Olhar para o relógio ou consultar o celular indica impaciência e vontade de encerrar logo a conversa.
  • Coçar a cabeça, dando um espremida nos olhos, é sinal de discordância com o que está sendo dito. Só o coçar pode ser dúvida (ou piolho).

Há muitos elementos que compõem a linguagem corporal, e interpreta-los corretamente não é para qualquer um. O conjunto dos movimentos e o contexto deve ser levado em conta. O conhecimento e auto reconhecimento dos movimentos melhora muito a capacidade de entender as pessoas e de se comunicar melhor.

Ajustando a comunicação

Outro elemento importante para comunicação efetiva é ajustar o discurso do emissor para o receptor, usar palavras e exemplos que sejam compreensíveis e comuns entre ambos. Exagerando, um beduíno árabe falando com um fazendeiro chinês é quase certo que, através de palavras, não conseguirão se entender, a não ser por mímicas ou linguagem corporal.

Este é um processo subjetivo, dinâmico e encerra em si um preconceito: a pessoa a qual dirige as palavras é capaz de entende-las? Faz esse julgamento e escolhe o que vai falar. Se imagina que a pessoa é simplória, usará palavras simples; se acha que é mais sofisticada, pode ampliar o vocabulário (ou pode fazê-lo apenas para causar uma impressão de que é mais inteligente do que realmente é).

Não será eficaz se passar instruções para um peão de fábrica usando palavras que ele nunca ouviu na vida ou se usar linguajar simples (como se estivesse falando com uma criança) ou coloquial demais numa reunião importante com diretores. Aqui entra o preconceito que citei: acha que o peão é burro e o diretor inteligente, o que nem sempre pode ser o caso. O ajuste deve ser feito conforme se desenrola a conversa e o nível de intimidade que tem com o interlocutor.

Para finalizar, ainda friso que, apesar da intenção e deliberada escolha de palavras, tom e gestos, existe uma diferença entre o que se deseja e o que se consegue.

O processo segue assim: tem-se um conceito abstrato do que se quer comunicar, formula-se em palavras e sentenças que podem distorcer o sentido original, na tentativa ser mais efetivo no intento do pronunciado (usando eufemismos para suavizar algo grave, por exemplo). O ouvinte (ou leitor) escuta ou lê a mensagem, que passa pelos seus filtros de valores e capacidade intelectual, e faz sua própria interpretação. A reposta passa pelo mesmo caminho. Me admira que sejamos capazes de nos comunicar, se é que me entendem.



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