
A formiga e o homem.
Um encontro casual gerou momentânea reflexão em um dos seres. Uma formiga e um homem num banheiro. Quanto foi necessário para que isso acontecesse? Um universo inteiro!

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Idade estimada.
13,7 bilhões de anos é a idade mínima estimada para o universo. O cálculo é baseado no tempo que as emissões de energia das estrelas primordiais, formadas aproximadamente 400 milhões de anos após o Big Bang, levaram para chegar até aos instrumentos de captação de luz visível e outros comprimentos de ondas eletromagnéticas. Em outras palavras, é o mais longe que que pode observar. 1,2923km é a distância. O tamanho, no entanto, é estimado em 93 bilhões de anos luz de diâmetro devido a expansão cósmica. Dentro deste espaço, estima-se que há 100 bilhões de galáxias, cada uma com 100 bilhões de estrelas.

Composição.
Apesar disso, essa quantidade enorme de corpos celestes representam apenas 4% da composição deste universo. 0,4% são objetos densos (estrelas e planetas) formados pela matéria comum que conhecemos: prótons, nêutrons, elétrons. Outros 3,6% são gases e poeira, desta mesma matéria.
21% é matéria escura, de composição desconhecida e indetectável pelos meios conhecidos atualmente, identificada apenas pelo efeito gravitacional que exerce entre estrelas e aglomerados estelares. O movimento destes astros é explicado somente se houver uma quantidade muito maior de massa do que as medições de luz e radiação apontam.
Os 75% restantes são energia escura, responsável pelo efeito contrário: aumento da velocidade de expansão do universo. Não se sabe o que é, mas uns chamam de energia do vácuo, emergindo conforme o espaço aumenta. Assim, conclui-se que, o que conhecemos como real e tangível, é a menor parte do que existe. Uma pequena parte, da qual ainda não se sabe tudo.
Destes 4%, a maior parte é composta por hidrogênio, hélio, os elementos mais leves, gerados no princípio de tudo. Apenas estes elementos, e em menor escala, lítio, foram gerados, levando pelo menos 10000 anos apenas na formação dos núcleos. 300000 anos seriam necessários para um resfriamento que permitisse a ligação com elétrons, formando os primeiros átomos completos. Com a ação da gravidade, estes átomos começaram a se agrupar, até que a massa se tornasse comprimida o bastante para inciar o processo de fusão nuclear, convertendo massa em energia. E = MC2.
Estrelas de vários tamanhos são criadas, de acordo com a disponibilidade de matéria ao redor. E com as estrelas, constelações e aglomerados estelares surgiram.
Ciclo das estrelas.
Nas estrelas, quanto maior a massa, maior a gravidade e maior a velocidade da fusão para contrabalancear o colapso, causando um consumo mais elevado do combustível nuclear. Primeiro, o hidrogênio é consumido e, quando este se esgota, bilhões de anos depois da formação da estrela, o hélio passa a ser fundido.
Neste ponto, as estrelas ficam maiores, pois a energia liberada na fusão de átomos mais pesados aumenta a temperatura e a colisão entre eles, e a repulsão magnética das partículas de mesma carga supera a gravidade, expandindo o núcleo. Podem se tornar tão grandes que as camadas externas se desprendem, formando uma nuvem ao redor.
O sol no sistema solar se tornará um gigante vermelho em 5 bilhões de anos e seu tamanho chegará até a órbita da Terra. Conforme o combustível é consumido, cada vez mais rápido, formando elementos mais pesados, o tempo de vida da estrela se aproxima do fim. Dependendo de sua massa e composição, terá destinos diferentes. Pode se tornar uma anã branca, uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.
Uma supernova é a explosão da estrela, gerando uma quantidade inimaginável de energia, brilhando tanto quanto uma galáxia inteira. Neste processo, os elementos pesados da tabela periódica são gerados. A Terra, e quase tudo contido nela, foi gerada através desse processo. Restos de uma explosão de uma estrela, bilhões de anos atrás.
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Formação da Terra.
A ação lenta e inexorável da gravidade moldou a via láctea e, dentro dela, em sua periferia, encontra-se o sistema solar. Bilhões de anos se passaram em silêncio e isolamento, sem testemunhas, apenas trilhando o caminho sulcado determinado pelas leis da natureza.

O terceiro planeta era apenas uma bola incandescente, bombardeado por meteoritos, aumentando sua massa e acumulando mais calor. Em um destes colossais impactos, parte da massa se desprendeu, formando seu único satélite, fundamental para estabilização do eixo de rotação e definindo o ângulo de inclinação, responsável pela estações.
Lentamente o material mais denso afunda, formando um núcleo de ferro, criando um potente campo eletromagnético, que protegerá as futuras formas de vida dos nocivos raios cósmicos e radiação vinda do sol. Parte deste núcleo vem à superfície através de impactos violentos, disponibilizando ferro e outros elementos mais pesados que serão usados futuramente pelos habitantes.
O processo de resfriamento endurece as camadas externas formando a crosta, como uma casca de um ovo; o vapor condensa-se, formando oceanos primitivos; cadeias orgânicas simples são formadas através de descargas elétricas, aumentando gradativamente em complexidade, em formas poliméricas de glicídios e lipídeos. Em algum ponto deste processo, macromoléculas formaram uma membrana que as diferenciam e as separam das demais, permitindo a seletiva entrada e saída de material e, posteriormente, a capacidade de replicação, consumindo energia e liberando subprodutos no ambiente. RNA e DNA primitivos, base para maioria da especies que viriam existir.

Aquelas mais adaptadas permanecerem e se modificaram, se espalhando e aumentando em número. Surgem bactérias, algas e microrganismos nos oceanos. Lentamente se multiplicando e variando em tamanho e forma. A complexidade é um efeito de inúmeras mutações. A palavra chave é tempo. Muito tempo entre uma coisa e outra.
Explosão de diversidade.
Alguns milhões de anos se passam e a vida havia explodido em diversidade. Na água, terra e ar, competindo por alimento, numa dança simbiótica. Espécies nunca conhecidas viveram e morreram sem deixar registro, apenas modificando e interagindo com aquelas que as sucederam, na cadeia incomensurável de eventos, interligada e interdependente. 99% das espécies que habitaram o planeta não existem mais, ceifadas por várias extinções em massa que assolaram a Terra. Os sobreviventes foram beneficiados pois, de outra forma, poderiam não ter resistido à concorrência dos extintos.
Seres com cérebros rudimentares, apresentam os primeiros sinais de cognição e socialização.
Das diversas ramificações criadas pelo ambiente, clima e fatores externos, como impacto de asteroides, os ancestrais da formiga e do homem surgem, dividindo o espaço, se adaptando e se transformando, inconscientes da presença do outro.

O encontro: a formiga e o homem.
Quantas gerações se passaram, quantos eventos positivos e negativos ocorreram para que a formiga e o homem, especificamente aqueles dois seres, compartilhassem o momento único? Quantos encontros e desencontros, guerras, doenças, situações de perigo e de escassez? Dos milhões de espermatozoides apenas um fecundou o ovo, e a geração seguinte, e outra e a outra. Decisões equivocadas ou corajosas, medos, fracassos, sucessos, sonhos, motivações, paixões, desejos, inúmeras interações sociais.
Cada formigueiro, cada luta por alimento, por espaço, por sobrevivência, bilhões que a antecederam e lhe deram origem. Especificamente aquela uma. E cada átomo de seus corpos, vindo de regiões distantes do universo, bilhões de anos antes, combinados e modificados incontáveis vezes, culminando naquele momento, cada um com um história única, rica e desconhecida.

Uma formiga vagando aparentemente sem rumo num banheiro e um homem com vontade de urinar. Um universo todo foi necessário para que esse encontro acontecesse. Não a razão, mas uma consequência. Qualquer desvio nessa trajetória, do mais insignificante imaginável impossibilitaria a ocorrência do evento, da existência de cada um, da espécie, da vida, do planeta, do sistema solar, da galáxia, do próprio universo. Simplesmente indescritível o peso do momento. E dos outros que se seguiria, pois cada um é único e carregado de história. Nada é insignificante nem desprovido de valor. Apenas não se reflete ou se maravilha o bastante…
Uma sombra se aproximando quebra a reflexão do ser. Uma massa gigante cobrindo o horizonte deixa tudo gradativamente escuro. Um súbito desejo de viver mais para aprender e contemplar os mistérios da natureza que lhe toma conta é suplantado por uma tranquila aceitação de que não há um fim, mas apenas transformação. Em breve será parte de outra coisa, devolvendo ao mundo aquilo que fora emprestado. Sentiu uma enorme pressão sobre seu corpo, tirando-lhe a vida e todas possibilidades nela contida. O homem esmagara a formiga com seu dedo, sem motivo aparente, e nem sequer lavou as mãos ao sair do banheiro.
